domingo, 4 de março de 2012

Backstage - O que deu errado em Jurassic Park: The Game


Já faz mais de três meses que o Jurassic Park: The Game da Telltale foi lançado. Eu, como fã incondicional da trilogia, paguei os US$ 29,99 da versão baixável pelo Steam com gosto, porque fã é para isso mesmo. A decepção foi tremenda e, dos quatro capítulos, cheguei até o terceiro tentando acreditar que a qualquer hora a situação poderia melhorar. Terminei o jogo e nada: Jurassic Park: The Game é realmente ruim. Agora em 2012, recuperado do baque e totalmente renovado após as festas de fim de ano, fui tentar de novo. E continuei achando ruim. Jurassic Park é um daqueles jogos que nem com boa vontade dá para encarar.
De volta à ilha. Mas nem precisava...
A trama começa na Ilha Nublar pouco antes dos incidentes do primeiro filme da franquia. Os personagens do longa não aparecem (além do corpo do coitado do Nedry), e, em vez deles, entramos na pele de um pessoal que, até o lançamento do jogo, não sabíamos que estavam por lá: a caçadora de recompensas Nilma, que busca os embriões de dinossauros (em uma missão parecida com a de Nedry), o veterinário Gerry Harding, que está com sua filha Jess, o mercenário Billy Yoder, que trabalha para a InGen e foi para lá com seus companheiros, e a geneticista Laura Sorkin, que quer proteger os bichões da intervenção dos humanos a qualquer custo.
Só que enquanto os personagens dos filmes de Jurassic Park querem apenas sobreviver (é um estilo que eu classifico como “survival dinosaur”), os do game querem apenas fazer intriga e soltar frases de efeito nos momentos mais inoportunos. É correr de dinossauros, falar mal uns dos outros, e correr mais ainda. E o jogador ali no meio, só apertando botões na ordem certa e clicando no cenário sabendo que vai dar tudo certo.
Os personagens todos vão aparecendo conforme a trama se desenvolve, e é até notável o cuidado que os produtores tiveram para deixar alguns acontecimentos plausíveis - como os objetivos e intenções de Nilma por lá. Claro, há lances risíveis (abater Velociraptor na porrada? Essa é nova...) e alguns buracos que ficam na história, mas, pelo menos até meados do segundo capítulo (são quatro), o resultado é até convincente. Depois disso, fica parecendo algum episódio especial da Turma do Didi ou coisa do tipo, tamanhas as trapalhadas que os personagens realizam em sequência. A perseguição final do jogo é tão ridiculamente mal montada que faria Steven Spielberg ter um treco e Michael Chrichton se remexer no caixão.


Era para ser jogo, né?
Bom, vamos ao jogo. Mas que jogo? Chegamos à fonte de todos os problemas de Jurassic Park: The Game. Mas antes, uma passadinha rápida na parte técnica, para não parecer perseguição ao trabalho do pessoal da Telltale: os modelos dos personagens e cenários são legais - não são estilizados nem querem ser realistas, mas são bem agradáveis ao olhar. A dublagem (veja bem - é a dublagem, não o roteiro ou os diálogos) é melhor que a de muitos jogos que custaram dez vez mais grana para serem produzidos, e a trilha sonora conta até com diversos arranjos do clássico tema original do filme. Além disso, inúmeras referências aos acontecimentos do filme estão lá para o deleite dos fãs. Também é legal ver como seriam algumas das atrações do parque, como uma espécie de montanha-russa que serve de palco para o único puzzle legal da aventura.
Só que você vai jogar e descobre que bastam cliques no mouse em certos lugares da tela e  reflexos mais ou menos rápidos (estes para os quick time events - pode apostar que são muitos, na maioria das vezes inúteis) para avançar. Não dá para propriamente controlar os personagens - tudo é feito com o mouse. Mas isso não deveria ser demérito nenhum, já que alguns outros jogos do gênero funcionam exatamente desta forma e são muito bons. Quer dizer, Jurassic Park: The Game fez de forma mal feita o que muitos jogos de quinze ou vinte anos atrás faziam muito bem. 
Eu já disse, e vou dizer de novo: os caras da Telltale fizeram um bom trabalho ao buscar referências no filme. Há citações que aparecem na película, e até os nomes de personagens que pouca gente se lembra, como do geneticista Henry Wu, estão por aqui. Também há uma referência a “um pessoal que foi convidado para atestar a segurança do parque, incluindo um paleontólogo famoso”. Dá até para ver o helicóptero que leva Alan Grant, Ellie Satler, John Hammond e companhia indo embora em determinada cena. Mas só isso não adianta muito quando não há desafio algum envolvido. Era para ser um jogo, né?
Nem perca seu tempo
Point and click é um gênero de nicho, e não é todo mundo que curte. Myst era mais parado ainda (aliás, eram só telas paradas mesmo), mas aquele mundo enorme era instigante de verdade. O problema é quando não há desafio nenhum - caso deste Jurassic Park. É só sair clicando em tudo que for clicável, ativar tudo que puder ser ativado, e olhar para todos os lados que puderem ser vistos, que o game avança. E os quebra-cabeças são escassos (aliás, durante o jogo todo, só vi duas partes que realmente são merecedoras do termo quebra-cabeça) e as sequências em quick time event são cansativas e, muitas vezes, desencessárias. Quick time event até para abrir porta? Para abrir armário? Para andar? Faça-me o favor, Telltale...
Assim, o jogador vira mero espectador de uma história que tem, sim, início, meio e fim. Apesar de algumas falhas e sequências inacreditáveis que forçam a barra demais (cara, estamos falando de dinossauros!), existe uma trama que, até certo ponto, respeita o trabalho de Spielberg e Chrichton. Só que Jurassic Park falha justamente em não ser um jogo. Não tem desafio, não tem recompensa, não exige nada do jogador. Pode chamar de experiência interativa, filme em CGI de apertar botões... na boa, até Dragon’s Lair oferecia mais interatividade. Não vá atrás deJurassic Park: The Game esperando um game de verdade.


As alternativas
Adora Jurassic Park? Então nós já sabemos que é bom passar longe de Jurassic Park: The Game. Mas há boas alternativas sim. Uma altamente recomendada é o Jurassic Park da geração 16-bits, mas na versão de Mega-Drive, desenvolvida pela BlueSky, que era em rolagem lateral e bem mais divertida que a do SNES, feita pela Ocean. Dava para jogar com o Dr. Grant ou com o Velociraptor, e a jogabilidade era muito boa. Até outro dia eu tinha o cartucho lá em casa e me arrependi muito de ter vendido.
Dependendo da cidade, ainda dá para encontrar um arcade de The Lost World: Jurassic Park (da Sega) dando sopa em alguma casa de fliperama. É um game de tiro com arma de luz, nos moldes de Virtua Cop e The House of the Dead, mas muito, muito empolgante e cheio de ação. Com sorte, dá para encontrar a versão “deluxe”, que tem uma cabine toda estilosa, cadeiras que giram e um telão enorme.
Ainda baseado no segundo filme da franquia, o The Lost World: Jurassic Park de Saturn e PlayStation não era ruim. Um game de plataforma clássico, com inimigos repetitivos, mas bem desafiador – é algo no nível do que havia de melhor na época. E que é certamente melhor que pérolas que vieram depois, como Jurassic Park: Warpath (o de luta) e Trespasser (um shooter em primeira pessoa exclusivo para PC).

por: william santana

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